quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

VIOLÊNCIA – Solidariedade seletiva

De forma contundente, mas sem abrir mão da elegância, o autor do comentário critica a solidariedade seletiva dos médicos, diante da escalada da criminalidade.
Segue, abaixo, o comentário anônimo:

“Vejam como são as coisas, quando não dói na gente acabamos por acreditar que tudo que acontece em volta nunca vai nos atingir. Nunca estamos alerta como os escoteiros. Os médicos atingidos na alma por perderem um colega, lembraram que a população existe. Acho justo e correto pedirem providencias para a violência, quem sabe eles consigam, o que nós, que não andamos nos civics prateados, não conseguimos. Lamento a morte estúpida do doutor Salvador. Um homem que salvava vidas! Deve ter nascido pra isso, pois carregava em seu próprio nome sua missão. Mas morreu como muitos. Nas mãos de bandidos.
“Agora pergunto: os médicos irão unir-se à população? Irão ver com outros olhos aqueles que chegam feridos por bandidos, nos hospitais? Eu vi tantas vezes médico ironizando pobres que chegaram baleados, outros que não cumprem seus plantões e deixam de salvar vidas porque estavam atendendo em seus consultórios e hospitais particulares, ou porque não se importam mesmo. Existem muitos médicos assim e hoje choram a morte de um colega. Parece que só agora descobriram que são tão frágeis quanto nós. Se querem fazer carreata, movimento, barulho, precisam contar com o apoio de todos. Somos todos vítimas do descaso e da inoperância da segurança pública: motoristas de táxi morrem em serviço, pais de família que viajam nas estradas, todos os moradores dos bairros periféricos que usam grades até nas portas de seus comércios.
“Hoje, abrir o portão de nossa garagem se transformou numa aventura. Você pode não entrar ou nem sair de sua casa, o perigo nos espreita. O horror multiplicado, acabou deixando vítimas sendo as únicas culpadas de sua própria morte: ‘Ele reagiu’. É o nosso instinto de sobrevivência, não nascemos para não reagir e somos agora nossos próprios algozes?
“Senhores médicos, se querem de fato que isso tudo mude, olhem o entorno de vocês, prestem atenção naquilo que fazem pela população, vocês, são exatamente iguais a nós, vítimas de um sistema falido, nenhum carro blindado irá salva-los disso se não começarem a entender que vocês não fazem parte de um grupo privilegiado. Bandidos matam por cem mil reais e por um par de tênis, pra eles, tanto faz.
“Podemos fazer uma grande manifestação, todos juntos. Pelo bem de todos, sem diferenciar aquele que anda de bicicleta e mora na Terra Firme ou no Guamá, e aquele que mora em condomínio fechado. Fechado pra que se o perigo está em todo canto? Eu irei às ruas, se for assim. É o justo, é o certo. O movimento pela paz no Rio é um bom exemplo.”

5 comentários :

Anônimo disse...

Congratulations, Caro Anônimo. É isso mesmo. Enquanto aqui no Rio a manisfestação é por todos, em Belém é só pelos médicos. Se fosse pelo menos os que honram a roupa branca que usam, tudo bem. Mas pra homenagear todos, nunca. Pois se trata de uma corja que deixa um monte de gente morrer, que é negligente, que rouba no serviço público, que trata saúde como mercadoria e ainda tem integrante como pedófilo. Aí não dá pra fazer coro. Pelo Dr. Salvador e pelos que andam nos caminhos trilhados por ele,tudo bem. O resto, se sumir amanhã, a sociedade agradece.

Anônimo disse...

sou anonima.
Lucia,agradeço, assim mesmo.

Anônimo disse...

Prezados: Jornalista e Comentaristas,

Você tocaram na ferida da sociedade. Aqueles que se sentem indiferentes ao sentimento de abandono da maioria da sociedade, são os mesmos que pedem ajuda para o movimento.
Nada mais certo fazer coro pela pessoa do Sr. Salvador, apelando ao poder público para se ter mais segurança.
Nada mais certo foi a pessoa que "colocou o dedo no suspiro" de nossa hipocrisia enquanto sere humanos.
PARABÉNS, SUAS PALAVRAS SÃO AS MAIS EVIDENTES SOBRE NOSSA CONDIÇÃO HUMANA.

Anônimo disse...

11:41, obrigada pela parte que me toca.
Lucia

Anônimo disse...

Até que fim apareceu alguém para colocar os médicos no mesmo patamar que os Mortais. Eles sempre se acharam, não são todos, os imortais e/ou Deuses inatigíveis. Que tal mobilizarmos para fazermos um grande manifesto pela paz por todos os cidadãos e não apenas por um?