domingo, 22 de abril de 2012

SINDIFISCO – Sobre os nossos fardos

        A propósito da denúncia anônima feita por e-mail endereçado ao secretário estadual da Fazenda, José Barroso Tostes Neto, sobre suposta corrupção na Sefa, a Secretaria de Estado da Fazenda, recebi e publico, integralmente, o e-mail abaixo, assinado por Charles Alcantara (foto), presidente do Sindifisco, o Sindicato dos Servidores do Fisco Estadual do Pará. O sindicato é anunciante do blog, o que provocou questionamentos sobre, ainda assim, eu repercutir denúncia que atinge integrantes da categoria representada pelo Sindifisco.

        “Prezado Barata,

        “Sei que pagas um alto preço por editares esse blog que, segundo o meu juízo, é independente e democrático.
        “Mas também sei, como deves igualmente sabê-lo, que a postura independente e democrática incomodam, doem às vezes, pois são muitos os espinhos nesse caminho.
        “Sabemos, ambos, que guardamos necessária distância, se não por outras razões, mas pelo fato de o Sindifisco ser anunciante do teu blog.
        “Sabemos, ambos, que não tens qualquer obrigação especial conosco.
        “A tua obrigação, que cumpres com denodo, é com a verdade.
        “A tua obrigação, que cumpres bem, é com os teus leitores, entre os quais me incluo, pois te leio todos os dias, mesmo nas tuas ausências eventuais e nem sempre breves.
        “A tua independência e o teu compromisso com a verdade de modo algum restam maculados pelo fato de o Sindifisco anunciar em teu blog.
        “Mas carregas, Barata, o fardo das mazelas da imprensa brasileira, majoritariamente atrelada a interesses corporativos.
        “Liberdade de imprensa é balela no Brasil. Todos a defendem, desde que – e até que – seja conveniente aos interesses em jogo.
        “Os barões da imprensa confundem – dolosamente, diga-se de passagem – liberdade com o direito de ocultarem do distinto público o que convém aos seus negócios.
        “Também carrego o meu fardo, Barata. O fardo de pertencer a uma categoria que goza de má reputação. No meu caso em particular, há um fardo adicional: o de também pertencer à “categoria” dos sindicalistas, sempre acusados de corporativistas no pior sentido do termo.
        “Tudo o que se espera de um sindicalista é a proteção incondicional dos seus representados.
        ‘Não é assim que temos procurado agir no Sindifisco. E pagamos um altíssimo preço por isso.
        “Mas o fato de não cedermos ao corporativismo estreito e cego não nos dá o direito de cedermos ao seu extremo: o denuncismo e o falso moralismo.
        ‘Há muitos interesses em jogo no nosso meio. Há muitos interesses contrariados.
        “Não é fácil equilibrar-se em meio a esse conflito, em meio a essa conflagração.
        “É preciso desprendimento. É preciso destemor. É preciso cautela. É preciso parcimônia. É preciso, como se diz, ‘não ter o rabo preso’.
        “A nossa firme posição em favor da apuração de todas as denúncias sempre se faz acompanhar do firme respeito ao princípio constitucional da presunção da inocência, pois somos todos inocentes, salvo se houver provas – e provas irrefutáveis – em contrário.
        “Se tem uma coisa que eu prezo, Barata, é a minha reputação. E se a minha reputação é-me tão cara, não posso deixar de respeitar a reputação alheia, nem posso, na minha condição, ficar impassível diante da ameaça à reputação de outras pessoas, quando são precários os elementos que sustentam tal ameaça.
        “Uma reputação leva uma vida inteira para constituir-se, mas pode ser destruída em segundos.
        “E há casos conhecidos e emblemáticos que nos remetem à constatação inexorável de que uma reputação, quando destruída, ainda que se prove infundada a acusação que lhe deu causa, não repara o mal, não desfaz o sofrimento causado, não aplaca a dor infligida.
        “Não me perdoaria, Barata, se deixasse de declarar preocupação com a reputação dos colegas acusados pela denúncia anônima que foi objeto de matéria especial em teu blog, pois a denúncia, não por ter sido anônima, ainda tem um longo e criterioso caminho a percorrer antes de qualquer conclusão a respeito.
        “Os colegas Célio Cal e Amadeu Fadul não podem ser tratados sequer como réus, pois não o são, muito menos como culpados de qualquer falta funcional.
        “São, ambos, servidores públicos que exercem funções de altíssima responsabilidade e risco e que, portanto, estão conscientes de que, no exercício dessas funções, tomam decisões importantes, contrariam interesses, frustram intenções, ferem suscetibilidades, correm riscos.
        “Também sabem, ambos, que são responsáveis pelas decisões que tomam.
        “É preciso, reitero, muito cuidado com a reputação alheia.
        “Sob os pés dos agentes do fisco repousa um barril de pólvora, sempre prestes a explodir.
        “Em carta endereçada aos 41 deputados estaduais do Pará, datada de março de 2011, quando diversas denúncias de corrupção e sonegação envolvendo servidores do fisco ocuparam as primeiras páginas dos jornais, dizia que os agentes do fisco exercem uma especializada, penosa, árdua e arriscada função.
        “No exercício dessa função, dizia, alguns dos nossos pares já foram assassinados, outros tantos já foram e estão sendo ameaçados e muitos, muitos, já sofreram pressões e retaliações. Outros, desta feita completo, já sofreram acusações infundadas e levianas.
        “Também disse na carta que exercemos uma função essencial à sociedade e ao funcionamento do Estado, para a qual são necessários: alta qualificação, permanente atualização e aprimoramento profissionais, dedicação, destemor.
        “Disse também que não somos um “mal” necessário, embora não seja e nem deva ser simpática a nossa função.
        “Somos, arrematei, simplesmente necessários.
        “Continue a carregar o seu fardo, Barata.
        “De minha parte, continuarei a carregar o meu.

        “Meus respeitos,

        Charles Alcantara
        Presidente do SINDIFISCO-PA

7 comentários :

Anônimo disse...

dignidade é isso.

Anônimo disse...

Muito papo furado, pergunto: Porque não se faz concurso público para todos os níveis da Sefa? Porque la só tem apadrinhados? E os contratos com terceirizados tipo Fadesp?

Anônimo disse...

Esse rapaz tem a impressionante capacidade de falar, falar e não dizer nada...

Anônimo disse...

Tenho orgulho de ser representado por um presidente de sindicato sério, honesto e transparente.
Que luta incansavelmente por melhores condições de trabalho e remuneração, mas é radicalmente contra desvios funcionais, COM A GRANDE DIFERENÇA QUE FAZ ISSO DE PÚBLICO. FILIADO SINDIFISCO

Anônimo disse...

Questão de Justiça :

Ao ver todos esses comentários sobre a SEFA nesses últimos dias só me vem um sentimento, tristeza!
Sou servidor concursado desta secretaria a mais de trinta anos e a conheço da porta de entrada até a porta dos fundos. Não tenho procuração do Dr. Amadeu e nem do Dr. Célio ou de alguma pessoa citada para defendê-los, mas no caso do Dr. Amadeu, ja tive a oportunidade de trabalhar com ele e com sua equipe por duas vêzes em duas fronteiras diferentes,e foram as duas melhores administrações que já vi na vida,nunca fugi do trabalho, sempre procurei respeitar meus colegas, a chefia e sempre fui leal a todos que me cercavam.tenho certeza que por isso sempre fui respeitado e valorizado por todos os chefes que ja tive.Voltando ao assunto, com o Dr. Amadeu não foi diferente. Em termos de fronteira ele é referência. O modelo de fiscalização adotado em todas as CECONTS a mais de dez anos foi criado por ele.Quando vejo essa pessoa que se diz fiscal verdadeiro desfilar todas essas "acusações", tenho certeza de que se trata de mais um péssimo servidor que teve seus interesses PARTICULARES ameaçados, ou mesmo cortados;já ví muito disso.Se essa pessoa está tão incomodada então que procure uma fronteira para trabalhar; Carajás não é a única, procure uma fronteira, trabalhe bastante, produza, faça valer o salário que o estado lhe paga em vêz de dar prejuízo.Porque você pode se autointitular um fiscal verdadeiro, mas pelo que estou vendo jamais será um Verdadeiro Fiscal.É muito fácil jogar lama na reputação alheia, tenho certeza Sr. Augusto Barata que seu blog não precisa dar ouvidos ao mau caráter e ressentimentos de péssimos servidores para conseguir mais leitores, pois sei de sua capacidade, sou seu leitor assíduo.então quando o Sr. pôe sutilmente no seu blog o título "Denúncias Gravíssimas na Sefa"..., não faça isso !o Sr. não tem tem conhecimento técnico para determinar se é uma denúncia gravíssima ou uma calúnia mais grave ainda, assim o senhor já está condenando as pessoas antecipadamente.A órgãos e setores para fazer isso.
Parabenizo o Sr. Charles Alcantara por ter dado o benefício da dúvida a essas pessoas, ainda que tardiamente !
Tenho a plena convicção que esse tipo de coisa tem que ser apurado a fundo para que pelo menos as pessoas envolvidas tenham o direito de se defender, uma pena que seja a portas fechadas e não num vernáculo como este.
Como ja falei é muito fácil você enlamear a reputação de uma pessoa. O difícil é limpa-la. e o ônus cabe somente a pessoa atingida.
Quando falei no início deste texto do meu sentimento de tristeza, é porque dediquei e dedico minha vida a esta secretaria e de repente, como as coisas estão sendo colocadas para o grande público, fica parecendo que a Sefa é um ninho de falcatruas e seus servidores não passam de um bando de barnabés corruptos.Que há péssimos servidores há, como em todo lugar.Mas também tem muita gente boa e bem intensionada que põe os interesses públicos e o fisco em primeiro lugar e sei também que são maioria.
Gostaria apenas de lhe fazer um pedido Sr. Augusto Barata, já que o Sr. cedeu esse espaço democrático e de tantos bons serviços prestados a informação a todos que tinham algo a dizer, peço-lhe humildemente que publique essa manifestação com o mesmo destaque que o Sr. publicou a "denúncia" e também as manifestações do Sr. Charles Alcantara.
Muito Obrigado !

Anônimo disse...

Menos 21:32...menos... mas muito menos!!! Pra começar, até entendo que, os que acusam, seja de boa ou má fé, o façam em anonimato, pelos riscos conhecidos (pura covardia, inclusive) e etc, mas não há o maior cabimento para os que defendem, o fazê-lo anonimamente. Afinal, a maior prova de lealdade e justiça se faz dedicando ao acusado a face e o nome, gritado pra todos ouvir. Eu, "fulano de tal" já trabalhei com o "sicrano" é atesto a todos neste espaço a integridade e honestidade e senso de justiça e ética do mesmo, e desafio os que tenham algo por menor que seja, que possa denegrir sua imagem. Assinado "Fulano de Tal". Assim daria pra levar a sério, não é???.Fora isso, nem pensar!!!

Anônimo disse...

Sr. Augusto Barata, ontem lhe pedi que se fosse possível publicaçe minha manifestação da mesma maneira que o sr fez com a do Charles e com a do suposto fiscal verdadeiro, mas o sr preferiu coloca-la como um simples comentário, como disse sujar a reputação alheia é fácil, o onus de limpa-la cabe única e exclusivamente ao atingido.Para estampar acusações é mais quem se apressa para servir de veículo, infelizmente !