sexta-feira, 26 de julho de 2013

SECULT – Lições de dignidade e respeito


        Fugir do constrangimento dos protestos não se constitui em novidade entre os eventuais inquilinos do poder, independentemente de legenda partidária. Mas a decisão de Paulo Chaves, o PC, de não só abandonar a sede da Secult, mas dispensar os servidores e simplesmente fechar as portas da secretaria e do próprio Parque da Residência não tem precedente na história recente. Nem mesmo durante a ditadura militar, seus prepostos no Pará chegaram a tanto, em circunstâncias análogas.
        Na gestão de Aloysio Chaves, um governador de perfil notoriamente imperial, por exemplo, o governo enfrentou intensos protestos, na esteira do fechamento do Theatro da Paz, para reformas, o que deixou Belém sem uma única casa de espetáculos. Em nenhum momento Aloysio Chaves permitiu ao seu secretário, Olavo Lyra Maia, virar as costas para a classe teatral, comandada por Luiz Octávio Barata e que liderava a mobilização reivindicando a criação de um espaço alternativo, que não deixasse nossos artistas reféns do Theatro da Paz, cuja própria suntuosidade, e os custos dela decorrentes, inviabilizavam as produções locais. Da mesma forma, o grupo Liberal – então sob o comando do seu fundador, o empresário e jornalista Romulo Maiorana – não silenciou sobre o imbróglio, apesar do tratamento privilegiado que lhe era dedicado pelo governo Aloysio Chaves e deste ter como assessor de Imprensa um dos diretores do jornal O Liberal, o jornalista Odacyl Cattete. Aloysio Chaves respeitou a liturgia do cargo, Romulo Maiorana preservou sua dignidade, como empresário e jornalista, e do diálogo que se estabeleceu, dentro dos limites que as circunstâncias impunham, resultou a criação do Teatro Waldemar Henrique, abrigo natural das produções incompatíveis com o vetusto Theatro da Paz.

        Foi nessa época, convém recordar, que floresceu o teatro de rua, a partir da iniciativa de Luiz Octávio Barata, do TCA, o Teatro Cena Aberta, em levar as montagens do grupo para o anfiteatro da Praça da República, em empreitada que teve o apoio de Margareth Refkalefsky, Zélia Amador de Deus, Walter Bandeira e Marizete Ramos, dentre outros tantos. Com um detalhe: o TCA era subvencionado não só pela Secdet, a Secretaria de Estado de Cultura, Desportos e Turismo, da qual é sucedânea a Secult, mas também pela Semec, a Secretaria Municipal de Educação, na época comandada pelo professor Mário Guzzo, subordinado ao prefeito de então, Ajax D’Olivera, indicado pelo governador, no caso Aloysio Chaves. A Semec, diga-se, por iniciativa de Gileno Muller Chaves (foto) - respeitado advogado e mais tarde bem-sucedido marchand, então assessor técnico da secretaria -, foi pioneira em definir a concessão de subvenções a partir de editais, com critérios previamente definidos, quando inexistiam leis de incentivo à cultura. Isso tudo em pleno regime dos generais, cuja intolerância, como se vê, é levada ao paroxismo por Paulo Chaves, com um despudor que nem a ditadura militar ousou. Tanto assim que abriu espaço para homens com a dignidade de Mário Guzzo e Gileno Muller Chaves. Dignidade que certamente é utensílio de museu para gente do jaez de PC.

Um comentário :

Anônimo disse...

Barata teu relato, sem hipocrisia, é uma aula sobre a história dos movimentos culturais no Pará.


Muito Obrigado, Reginaldo Paiva.