domingo, 12 de outubro de 2014

ELEIÇÕES – “Máquina e mídia não escondem a verdade”

Roberto Corrêa: vocação política faz de Helder Barbalho o favorito.

        “Máquina administrativa e mídia são importantes, mas não conseguem esconder a verdade sentida pelo eleitor a quando da avaliação da gestão tucana que se encerra.”
        A observação é de Roberto Corrêa, cientista político que é professor de carreira da UFPA, a Universidade Federal do Pará, ao comentar os desdobramentos da eleição para o governo do Pará, em cujo primeiro turno Helder Barbalho, candidato do PMDB, derrotou o governador Simão Jatene, do PSDB. Um dos mais respeitados intelectuais de sua geração, Corrêa vê o pêndulo eleitoral favorecer Helder Barbalho, herdeiro político do senador Jader Barbalho, com o qual se confunde o PMDB no Pará. “Ser político é vocação e o tempo da política é o tempo da negociação, do ouvir com atenção as demandas e sugestões dos aliados. Diferente de Jatene, Helder é o piloto de uma nova coalização que busca o poder amalgamando demanda dos vitoriosos e derrotados. As adesões a sua candidatura são a prova inconteste de sua vocação política”, assinala Corrêa, na entrevista abaixo, concedida ao Blog do Barata.

        Costuma-se dizer que o segundo turno é uma nova eleição. Esta premissa aplica-se ao caso do Pará, diante da exacerbada polarização que desde o início da campanha marca a disputa para o governo e o caráter plebiscitário que o PSDB tentou imprimir à eleição, na esteira da condição de Helder Barbalho de herdeiro político do senador e ex-governador Jader Barbalho?

        Nova eleição é redundância semântica para não dizer reconhecimento da estratégia de continuidade da política eleitoral desencadeada no 1º turno, posto que os concorrentes darão prosseguimento ao esforço de captura de votos mediante assédio aos candidatos eleitos e não eleitos pelas nominações partidárias e/ou coligações. Campeões de voto como Delegado Eder Mauro (PSD, 265.983 votos) e Edmilson Rodrigues (PSOL, 170.604 votos) estão no centro desse assédio tático. No caso dos não eleitos, os que pontuaram em significado de popularidade, foram, para governador, Zé Carlos Lima (PV), com 1749 votos; Elton Braga (PRTB), com 749 votos; mais a não tanto surpresa de Jefferson Lima (PP), para senador, com 741.727 votos. Muitos candidatos a deputado federal e estadual, não eleitos, serão importantes nesse esforço de cabalagem: Raul Batista (PRB); Miriquinho Batista (PT); Giovanni Queiroz (PDT); Paula Titan (PMDB); Gerson Peres (PP) e Ana Julia Carepa (PT). Concordo com o termo nova eleição dado que a estratégia dominante será a busca do voto trânsfuga, posto que no 2o turno cai e muito a mobilização da tropa de apoiadores do candidato Jatene em razão das não esperadas derrotas e das eternas quizilas reinantes no jardim secreto tucano, aumentando com isso a inclinação do eleitor mediano votar em quem está na frente; neste caso, Helder Barbalho. A intuição de que o candidato desafiante seja herdeiro político de Jader Barbalho é fragilizada nos propósitos difamadores da tucanada, tendo em vista a surpreendente autonomia intelectual, moral e política do jovem Helder Barbalho, sobretudo no que diz respeito a sua autoimagem explicitada na semântica inaugurada por Maquiavel: seja por carisma (liderança e poder); seja por virtù (valores próprios e reais que um homem político oferece a seus seguidores).

        Considerando o quadro eleitoral no Pará, o segundo turno é o momento do voto útil, do eleitor dizer sobretudo o que não quer, ou comporta o voto da persuasão, determinado por uma agenda propositiva?

        As duas motivações, persuasão e agenda propositiva se encontram no marketing político e estarão expressas nos debates que agora, cara a cara, tendem a reduzir a dominância do script e favorecer o candidato com maior sagacidade, criatividade e domínio da informação regionalizada e localizada, no que favorece Helder pelo seu Ouvindo o Pará em mais de 100 municípios. Jatene estará preso a números que não convencem e poderá se sentir atraído pelo jogo de “cascas de banana” que na maioria das vezes funcionam como bumerangues. A agenda propositiva dos candidatos é sempre o que o eleitor mais exigente que ver e ouvir na discussão dos debates do 2º turno; pois, afinal, o eleitor busca na noção de bem público o que mais importante para sua vida; mormente no que diz respeito a cesta básica da cidadania: educação, saúde e segurança.

        Qual a repercussão, na candidatura do governador Simão Jatene, ele ter saído do primeiro turno com votação inferior a de Helder Barbalho, a despeito da utilização da máquina administrativa estadual e do ostensivo apoio de um dos dois maiores grupos de comunicação do Pará, com o agravante adicional do Pará exibir índices sociais pífios?

        A repercussão desse inesperado 2º lugar é, sem dúvida, o rebaixamento da moral da tropa que diante da quase tragédia eleitoral poderá vir a ser no 2º turno uma espécie de Incrível Exercito de Brancaleone --- ou seja, uma brigada desorientada nos seus propósitos eleitorais e tendente a aceitar a corrente trânsfuga, dos que mesmo tendoi votado em Jatene no 1º turno, passam a votar em Helder no 2º turno, algo como a descabestralização do voto. Máquina administrativa e mídia são importantes, mas não conseguem esconder a verdade sentida pelo eleitor a quando da avaliação da gestão tucana que se encerra. Bom lembrar que todo o gestor (presidente, governador e prefeito) é príncipe para uns e tirano para outros. Helder, com tudo o que a mídia apronta, foi reeleito em 1º turno para um segundo mandato em Ananindeua; o que o enquadra como príncipe da maioria e tirano da minoria. Para Jatene, as pesquisas mostram o inverso, seja pela avaliação de seu governo, seja pelo índice de rejeição.

        Até onde repercute, nas candidaturas de Helder Barbalho e Simão Jatene, o fato do segundo turno se dar com as disputas para a Câmara Federal e Assembleia Legislativa já definidas, com o previsível legado de mágoas daqueles cujas expectativas foram frustradas?

        Não há como evitar as frustrações e mágoas dos não eleitos e dos eleitos. É muito comum entre os tucanos paraenses as desavenças intra e entre partidos coligados. Fato que denuncia a ausência de uma liderança reconhecida por todos, como é o caso de Jader Barbalho no PMDB que, longe de ser um cacique é, na verdade, um maestro que rege uma coalizão de líderes regionalizados pelo plesbicito de 2012 da redivisão territorial do Pará. Jatene não é politico, é um técnico competente e, como tal, seu tempo está voltado para o resultado e não para a negociação pela qual não demonstra vocação ou paciência . A principal queixa que dos políticos é a de que Jatene, quando procurado em seu gabinete, parece ouvir não ouvindo... Ser político é vocação e o tempo da política é o tempo da negociação, do ouvir com atenção as demandas e sugestões dos aliados. Diferente de Jatene, Helder é o piloto de uma nova coalização que busca o poder amalgamando demanda dos vitoriosos e derrotados. As adesões a sua candidatura são a prova inconteste de sua vocação política.

        São evidentes as fraturas internas no PSDB do Pará, a mais vistosa das quais a do senador Mário Couto. Até que ponto isso conspira contra a candidatura de Simão Jatene, considerando que o candidato tucano muito provavelmente terá o apoio de políticos bem à direita do espectro ideológico, como Wlad Costa, reeleito deputado federal pelo Solidariedade?

        Essas fraturas são agravadas por feridas difíceis de sarar. Mário Couto e Jefferson Lima não apoiam Jatene. Aliás, Jefferson Lima já aderiu a candidatura de Helder. Wlad, até onde sei, tem seu reduto eleitoral em intercessão com os redutos do PMDB e, por conveniência de sustentabilidade eleitoral, não deverá se arriscar numa campanha contra seus ex correligionários. Especulo que Wlad negociou sua migração para outro partido como tática de garantir sua eleição sem prejudicar a eleição das candidaturas novatas do PMDB a deputado federal, como a de Simone Morgado.

        No primeiro turno, a candidatura do tucano Simão Jatene fez-se dissociada da candidatura do presidenciável do PSDB, Aécio Neves, cuja votação no Pará foi pífia. Supondo-se que no segundo turno Aécio Neves melhore seu desempenho no Pará, até por conta da eventual migração de parcela dos eleitores de Marina Silva, isso pode favorecer Simão Jatene?

        Primeiro há que considerar que Marina Silva tem um eleitorado muito eclético. Religiosos, ambientalistas, ecologistas, petistas insatisfeitos, etc. Esse eleitor não necessariamente acompanhará o apoio indicado por Marina. Votará de acordo com suas crenças que, em estados pobres do Nordeste e Norte, tendem a referendar a reeleição de Dilma em associação crescente com o candidato a governador integrante da coligação armada para o 2º turno. No caso do Pará, Dilma e Helder reforçam a adesão do voto “maluco beleza”, muito próprio da contradição ambulante que é Marina Silva. Não esquecer que o candidato do PV ao governo, Zé Carlos Lima, já proclamou seu apoio a Helder.

        No que a candidatura da presidente Dilma Rousseff pode favorecer Helder Barbalho, na disputa para o Senado?

        A bipolarização plesbicitaria tende a consolidar as preferências do eleitor tanto de Dilma para Helder como de Helder para Dilma. Programas de governo em andamento como o PAC, Prouni, Minha Casa Minha Vida, Pronatec, Bolsa Família, entre outros, despertam o interesse do eleitor nessa associação tendo em vista que o centro estratégico de poder é Brasília e sua derivação, o Pará, há que falar a mesma língua centrada nos interesses dos pleitos futuros.

        O que, neste segundo turno, pode contar a favor e o que pode conspirar contra as candidaturas de Helder Barbalho e Simão Jatene?


        A candidatura de Helder tem a favor a preferência do eleitorado pela continuidade dos programas de transferência de renda expressos na candidatura a reeleição de Dilma Rousseff. O que poderia conspirar contra seria uma ascensão inesperada da candidatura de Aécio Neves, uma vez que a polarização faz dessas chapas um tipo de voto em bloco sistêmico. Isto é, quem vota em Dilma vota em Helder; quem vota em Aécio vota em Jatene. Daí a mudança de estratégia dos tucanos em anunciar o empate técnico como presságio de vitória da oposição tucana. Ou seja, queiramos ou não a polarização PT v.s. PSDB contamina o mercado eleitoral independentemente do partido coligado a esta ou aquela nominação partidária. Falo isso como tendência, jamais como lei natural de preferências eletivas do eleitor paraense. 

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