segunda-feira, 25 de maio de 2015

REMO – “Não se pode legitimar falcatruas”

Antônio Carlos Teixeira: intransigente na defesa dos interesses do Remo.

“Para preservar os interesses do Clube do Remo não convém estimular disputas internas, mas também não se pode, nem se deve, legitimar falcatruas, de caráter culposo ou doloso.” A declaração é do advogado Antônio Carlos Pinheiro Teixeira, 56, procurador federal, uma das mais respeitadas lideranças do Clube do Remo, hoje submerso em uma grave crise interna, que culminou com o afastamento temporário do presidente, Pedro Minowa, ameaçado de destituição, na esteira de recorrentes denúncias de corrupção. Para além da extensa folha de serviços prestados ao clube - com ênfase para sua decisiva participação na conquista do título de campeão brasileiro da série C, em 2005 -, ele se notabiliza pela postura firme, mas serena, como dirigente. Não por acaso Antônio Carlos foi, na história recente do Remo, o mais jovem presidente, conselheiro, benemérito e grande benemérito do clube. O que certamente explica sua credibilidade como interlocutor confiável que é, sedimentada pela rara capacidade de não abdicar de princípios que se sobrepõem as circunstâncias, sem resvalar para o sectarismo. Antônio Carlos, o popular Tonhão, aumentativo que o acompanha desde a juventude, ensejado até pelo porte físico, costuma manter abertas as portas do diálogo, peculiaridade que cultiva não só no âmbito esportivo, como nos planos profissional e pessoal.
Este perfil previsivelmente torna Antônio Carlos um personagem vital para o desfecho da crise do Remo, o Leão Azul, um dos dois maiores clubes de massa da Amazônia, ao lado do rival histórico, o Paysandu, o Papão da Curuzu. Crise que ele trata de resumir com objetividade, sem eufemismos. “A questão essencial reside em saber, em apurar, se as graves acusações a Pedro Minowa procedem, ou não”, sintetiza. Não sem antes esfarinhar as críticas diante do rigor com o qual o Conselho Deliberativo azulino trata o imbróglio que tem no seu epicentro o primeiro presidente da história do Remo eleito pelo voto direto dos associados. “Preliminarmente, cabe sublinhar que alegar precedentes, para justificar ilícitos, é um álibi ao qual habitualmente recorrem delinquentes e bandidos, e eu entendo que nós não estamos lidando com pessoas dessa estirpe. Erros do passado não justificam a omissão diante de transgressões do presente”, sublinha. E descarta a possibilidade de voltar a ser presidente do Remo. “As circunstâncias são outras. As exigências são bem maiores e o tempo que hoje disponho é pouco para dedicar-me ao meu amado clube, na condição de seu presidente. Presidir um clube de massas, como é o Remo, exige uma disponibilidade que eu hoje não tenho”, acentua Antônio Carlos na entrevista abaixo, concedida ao Blog do Barata antes de Pedro Minowa ser reconduzido ao cargo, em consequência de uma liminar obtida na Justiça.

Com a autoridade de quem é um remista histórico e uma das mais respeitadas lideranças azulinas, qual a sua avaliação sobre a crise na qual submergiu o Remo, que culminou com o traumático afastamento do presidente Pedro Minowa, justo às vésperas da estreia do clube na série D, com previsíveis prejuízos ao planejamento para a disputa da competição?

Vejo a situação do nosso clube com bastante preocupação e tristeza. Se não bastassem os problemas cotidianos do clube, como seu passivo trabalhista, salários de funcionários e jogadores atrasados, hoje o Clube do Remo vive uma crise de gestão, onde o presidente, quase semanalmente, é denunciado, junto a mesa do Conselho Deliberativo, por supostas irregularidades cometidas e que já estão sendo alvos de investigações por uma comissão processante, nomeada especificamente para isto. Para preservar os interesses do Clube do Remo não convém estimular disputas internas, mas também não se pode legitimar falcatruas, de caráter culposo ou doloso.

São públicas e notórias as acusações de gestão temerária, acrescidas de graves suspeitas de atos de improbidade, contra Pedro Minowa. O que existe de concreto a respeito e quais as eventuais alternativas se confirmadas as acusações e suspeitas associadas a gestão do atual presidente do Remo?

Como eu mencionei em resposta anterior, devido as denúncias formuladas junto a mesa do Condel foi designada, pelo conselho, uma comissão processante com o fito de apurar a veracidade das mesmas. E para não prejudicar esta investigação e garantir a mais absoluta independência da apuração que se faz necessária, e ainda para preservar a já tão arranhada imagem do clube, o Condel, em reunião extraordinária, e por maioria de votos, resolveu afastar o presidente temporariamente, até o relatório final da comissão processante. Esse relatório conclusivo será votado pelo Condel, e se a decisão for para apenar com a destituição do presidente, caberá à Assembleia a palavra final. Tudo isto respeitando o direito assegurado de ampla defesa e de acordo com que determinam as normas estatutárias.

Não faltam, na história recente do Remo, precedentes de graves desmandos por parte de ex-presidentes, inclusive com danos ao patrimônio histórico do clube ou a este lesivos, como, por exemplo, nos casos de Amaro Klautau e Zeca Pirão. Por isso, a pergunta que não quer calar: por que tanto rigor em relação a Pedro Minowa?

Preliminarmente, cabe sublinhar que alegar precedentes, para justificar ilícitos, é um álibi ao qual habitualmente recorrem delinquentes e bandidos, e eu entendo que nós não estamos lidando com pessoas dessa estirpe. Erros do passado não justificam a omissão diante de transgressões do presente. A questão essencial reside em saber, em apurar, se as graves acusações a Pedro Minowa procedem, ou não. É indispensável contextualizar, para se ter a compreensão exata do porquê do afastamento do presidente e da possibilidade de sua destituição. O Remo, como reflexo natural dos ventos da democracia política, que se refletem no futebol, avançou, no sentido de não mais conviver placidamente com o mandonismo e com os desmandos do passado, inclusive o passado recente. Temos no clube, hoje, um Conselho Deliberativo não só fortalecido em suas atribuições, como substancialmente renovado, com a participação de jovens quadros movidos por um ideário democrático, que repelem a impunidade.

“Alegar precedentes, para
justificar ilícitos, é um álibi de
delinquentes, de bandidos, e eu
entendo que nós não estamos
lidando com pessoas dessa estirpe.”

Pedro Minowa tornou-se presidente legitimado pelo voto direto dos associados, em uma eleição histórica, porque em tese representaria a democratização da administração do clube. Pelo ocorrido, deve-se concluir que a democracia revelou-se incompatível com as demandas de um clube de massas, ou apenas ocorreram desvios na implementação do processo de escolha pelo voto direto dos dirigentes?

Concordo com a segunda alternativa. Acho que, pelo açodamento em realizar a primeira eleição direta para presidente e vice do Remo, algumas etapas para a implantação deste novo modelo foram transpassadas, daí resultando consequências danosas, que estimulam a cizânia e paralisam o clube.

O presidente agora afastado foi eleito contra o desejo dos cardeais do clube e tendo como adversário um presidente em cuja gestão o Remo voltou a ser campeão estadual de futebol profissional, após uma sucessão de amargas frustrações. A que se deve a vitória de Pedro Minowa? Ela pode ser interpretada como resultante do desgaste de vetustas lideranças do clube, que lhe eram inocultavelmente hostis?

Aqueles que são considerados e chamados de cardeais, muito fizeram por este clube, isto é fato! Fazem parte da história deste clube, ninguém poderá negar. Na minha leitura, alguns fatores contribuíram para a eleição do Minowa, sem querer depreciar o trabalho que ele já prestou e eventualmente tenta prestar ao nosso clube. Foram apresentadas pela chapa vencedora 33 propostas de gestão, que iam ao encontro dos anseios do conjunto de associados. Uma delas foi a promessa de implantação de uma gestão pautada pela modernidade e pela transparência, o que até aqui nem de longe se confirmou. Aliado a isso tudo, tinha-se a circunstancial condição do Remo, naquele momento, como um clube ”fora de série”, e a promessa, também não cumprida e sem perspectiva de vir a ser cumprida, de um novo Baenão. Promessa estimulada pela precipitada demolição de todo o setor de cadeiras, sucedida pela venda de um novo setor de cadeiras e camarotes, feita antecipadamente e sem que o organograma da obra fosse cumprido pelo ex-presidente Zeca Pirão, o que deu aos sócios a convicção que o Clube do Remo precisava passar por mudanças urgentes. Aliás, Minowa acenou, dentre outras propostas, com a retomada das obras no Baenão no dia seguinte de sua eleição, o que não ocorreu. Com promessas de palanque, turbinadas por um discurso populista e algo messiânico, Pedro Minowa credenciou-se como o suposto candidato das mudanças almejadas.

O atual estatuto do Remo inclui, dentre outras coisas, um conselho que tutela o Departamento de Futebol, o que na prática engessa um setor vital para um clube de massas, ao qual é indispensável a autonomia necessária para decisões que frequentemente exigem agilidade. O Remo não estaria sendo vítima de um deletério democratismo, o desvio que torna uma administração terra de ninguém?

Fui e sou totalmente contra a criação deste Conselho de Futebol, pelo exagero de atribuições e poderes, que suscitam conflitos de autoridades dentro do clube. Mas, já que este conselho está contemplado nas normas estatutárias, o Codir tem a obrigação de respeitá-lo e cumprir não só esta, como todas as normas estatutárias.

“Qualquer gestor – e o do Remo não
fica isento dessa responsabilidade –
deveria tomar como norma a
transparência. É a transparência que
blinda contra desvios qualquer gestão.”

Já foi dito, intramuros, que a arquibancada está, hoje, dentro do Remo, em um desabafo que reporta ao temor da paixão do torcedor contaminar a administração de um clube de massas, na qual é imperioso um mínimo de racionalidade, para compatibilizar o desejável com o financeiramente possível. Esse temor procede e como esse risco pode ser neutralizado?

Acho a nossa torcida fantástica e fenomenal. Ela tem evidenciado o seu amor ao clube de forma comovente, inclusive, e particularmente, nos momentos mais necessários. O que acontece é que, devido a demora de uma abertura maior para implantação de uma renovação, não só etária, como também de mentalidade, alguns grupos foram formados por sócios e torcedores para pressionar pela realização de algumas mudanças estruturais dentro do clube, com ênfase para as eleições diretas. Infelizmente, pelas circunstâncias em que foram materializadas as mudanças já consumadas, instalou-se um clima de cizânia, de desunião, que conspira contra o clube, porque as disputas internas engessam a administração do Remo.

Seria utópico pedir menos democratismo e mais transparência, com a publicação mensal, na página do clube na internet, do balanço mensal, inclusive com o detalhamento da movimentação financeira do Departamento de Futebol?

De maneira nenhuma. Qualquer gestor - e o do Remo não fica isento dessa responsabilidade, convém frisar - deveria tomar como norma, como cláusula pétrea, a transparência administrativa. É a transparência que blinda contra desvios qualquer gestão. E ela é tanto mais indispensável quando falamos de um clube de massas, como é o caso do Remo, que desperta paixões avassaladoras. E a paixão, no esporte, como na vida, pode nos deixar com a visão turvada, e por isso suscetíveis ao deslumbramento e, por extensão, a erros crassos, a equívocos de consequências irremediavelmente danosas.

Não lhe falta competência, experiência e cacife para voltar a ser presidente do Remo. O que o impede, hoje, de voltar a encarar esse desafio?


As circunstâncias são outras. As exigências são bem maiores e o tempo que hoje disponho é pouco para dedicar-me ao meu amado clube, na condição de seu presidente. Presidir um clube de massas, como é o Remo, exige uma disponibilidade que hoje não tenho.

Nenhum comentário :