terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

TRUCULÊNCIA – A pergunta que não quer calar: por que a polícia civil prende o motorista e não o dono da Oplima?



Ainda que a escalada da criminalidade seja o principal problema que atormenta a população de Belém, hoje incluída no ranking de uma das capitais mais violentas do Brasil, em uma situação agravada pelo sucateamento da segurança pública, não deixa de ser louvável, pelo menos em tese, a preocupação da polícia civil com os crimes ambientais. Mas, mesmo assim, para além da inocultável iniquidade, soou despropositada a prisão do motorista da Oplima, flagrado despejando entulho em via pública. Despropositada porque o humilde motorista apenas cumpria ordens, certamente temendo engordar as estatísticas de desempregado na eventualidade de contrariá-las, enquanto o dono da empresa segue lépido e faceiro, esgravatando os dentes, gozando das delícias da impunidade.
Por que o delegado Vicente de Paulo, da DEMA, a Delegacia Especializada em Meio Ambiente, não aplicou o rigor da lei ao empresário dono da Oplima, preferindo reserva-la a um humilde trabalhador indefeso, cuja periculosidade está a uma distância abissal de madeiros que devastam a floresta Amazônia? A lei, é certo, existe para ser cumprida, mas a autoridade policial precisa preservar o senso de equidade, cultivar o princípio da proporcionalidade e, principalmente, jamais abdicar do bom senso. Diante do ocorrido, fica a interrogação: é justo encarcerar um humilde e indefeso pai de família, enquanto perdura impune quem deu causa à sua transgressão?
O depoimento do próprio delegado Vicente de Paulo ao G1, o portal de notícia da Globo, é emblemático da iniquidade patrocinada pela DEMA. “O motorista estava seguindo ordens de seus superiores, sem a correta orientação para destinar os resíduos para um local adequado. Em função disso, ele está sendo autuado em flagrante com base no artigo 54 da Lei de Crimes Ambientais, situação que não cabe fiança”, explicou o delegado, segundo relata a notícia do G1. A notícia acrescenta, com base nas declarações do delegado Vicente de Paulo, que o motorista será conduzido para o sistema prisional e a empresa será responsabilizada no processo legal. O caminhão foi apreendido e ficará à disposição da Justiça.

O episódio da prisão do motorista da Oplima, ao fim e ao cabo, é ilustrativo da truculência dos covardes, que se valem da letra fria da lei para perpetrar suas ignomínias. Ou dos corruptos, habitués em criar dificuldades para vender facilidades.

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