quinta-feira, 13 de outubro de 2016

ELEIÇÕES – “Não acredito em transferência de votos em grande escala”, diz Américo Canto sobre segundo turno

Américo Canto, do Acertar: competência e credibilidade comprovadas.

“No cenário político atual não acredito em transferência mecânica de votos em grande escala. Acredito que apoio político de determinado candidato pode ajudar o eleitor a se posicionar. O voto está mais personalizado; o voto não é do partido, e sim do candidato. O eleitor vota na pessoa, até mesmo porque, como você mencionou, é grande o desgaste da classe política e, por tabela, dos partidos políticos.” A declaração, feita em entrevista ao Blog do Barata, é de Américo Canto, 54, sociólogo com mestrado em ciência política, que é diretor geral do Instituto Acertar, notabilizado pela habitual margem de acerto de suas pesquisas de intenção de voto. É com o rigor da experiência de 15 anos trabalhando com sondagens eleitorais que ele analisa, com as credenciais de quem é reconhecido como um profissional de competência e credibilidade comprovadas, o cenário do segundo turno da eleição para a Prefeitura de Belém, travada entre o prefeito Zenaldo Coutinho, do PSDB, e o deputado federal Edmilson Rodrigues, do PSOL. Ele não subestima a importância das alianças eventualmente costuradas e das declarações de apoio obtidas, capazes de fortalecer candidaturas. Mas adverte: “é bem diferente declarar apoio e ficar observando a banda passar, de declarar apoio e ir para a rua trabalhar pela candidatura de seu apoiado”.
Sobre o surpreendente desempenho de Zenaldo Coutinho, no primeiro turno, Américo Canto credita à maior visibilidade da campanha do prefeito em busca da reeleição, somada ao contingente de eleitores indecisos, identificados pelas pesquisas de intenção de voto. “Deve-se levar também em consideração que as empresas de pesquisas apontavam número significativo de indecisos e que na reta final a visualização e volume de campanha do candidato Zenaldo provavelmente contribuiram para que esse eleitor indeciso tomasse a decisão de votar naquele em que o eleitor acredita que vai ganhar o ‘voto útil’”, avalia. Ele não subestima, porém, o fato do prefeito dispor da chave do cofre e da caneta que nomeia e demite. “A proibição de doações por parte de empresa também contribuiu para que o candidato com a máquina administrativa nas mãos levasse alguma vantagem”, assinala ainda, na entrevista concedida ao Blog do Barata.

O que poderia explicar a inesperada vitória do tucano Zenaldo Coutinho, já no primeiro turno, a despeito do seu pífio desempenho como prefeito de Belém?

Os fatores que nos parecem plausíveis para a mudança no comportamento do eleitor belenense, estão relacionados principalmente com a mídia utilizada pelo candidato, com propaganda dos feitos e não feitos, mas muito bem apresentado pelo sistema de comunicação que cuida da campanha do candidato Zenaldo. Outro fator relevante esteve relacionado ao aumento gradativo da visibilidade de campanha do candidato. Nos últimos dias de campanha o material de propaganda do candidato era bem superior ao de seus adversários, além do número de pessoal de campanha. Outra questão a ser considerada, é a redução do tempo de propaganda eleitoral de 90 para 45 dias, o que trouxe dificuldade para candidatos desconhecidos ou estreantes na política partidária. A proibição de doações por parte de empresa também contribuiu para que o candidato com a máquina administrativa nas mãos levasse alguma vantagem. Além do número elevado de candidatos que fragmentaram os votos dos insatisfeitos com a administração atual, as inaugurações de última hora, como a do BRT, dentre outras. Deve-se levar também em consideração que as empresas de pesquisas apontavam número significativo de indecisos e que na reta final a visualização e volume de campanha do candidato Zenaldo provavelmente contribuiram para que esse eleitor indeciso tomasse a decisão de votar naquele em que o eleitor acredita que vai ganhar o “voto útil”. Vale ressaltar que neste pleito foi em muito, reduzida à importância das siglas partidárias, no caso mais emblemático, o do PT, que de certa forma contribuía para a tomada de decisão do eleitor e ,assim, aumentou de maneira significativa a parcela de eleitores que mudam constantemente de opinião, os eleitores independentes e o sistema de comunicação. O tempo de TV do candidato também foi de suma importância para canalizar o voto desse público.

Para além da utilização das máquinas administrativa estadual e municipal, da propaganda enganosa e das obras eleitoreiras, o que pode explicar as sucessivas vitórias, ocorridas em Belém, de candidatos estigmatizados pelos seus antecedentes e/ou pelo desempenho pífio como gestor? Belém é a capital do atraso político?

A emenda constitucional nº 16, de 4 de junho de 1997, introduziu o instituto da reeleição no sistema eleitoral brasileiro e desde sua instituição até agora me parece que já houveram sete eleições, quatro gerais e três locais. Esse fato, a meu ver, favorece o candidato que detêm a máquina administrativa, dificulta a renovação, a alternância no poder, e esse pode ser um dos fatores que limitam as escolhas, criam vícios e fortalecem o clientelismo que acaba sendo um dos pilares principais para alavancar candidatos que detêm o poder e que estão avaliados de forma negativa pela população. A insatisfação social acaba sendo, em parte, diluída por ações localizadas e muitas vezes imediatistas e eleitoreiras. O clientelismo tem sido um dos carros chefe nas reeleições locais, mesmo de prefeitos que são avaliados de forma negativa pela sociedade. Acredito que somente a ex-governadora Ana Julia, não conseguiu se reeleger aqui no estado do Pará.

Por todo o Brasil, viu-se o fracasso, nas eleições deste último domingo, dos candidatos alinhados contra o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. Esse fenômeno também poderia justificar a inesperada derrota, no primeiro turno, de Edmilson Rodrigues, na contramão, inclusive, das pesquisas de intenção de voto?

Acredito que não. Esse fato não foi explorado de forma intensa na campanha eleitoral. As pesquisas publicadas às vésperas das eleições indicavam vitória para o candidato Edmilson, assim como as mesmas também demonstraram número significativo de indecisos, em média 8%. Esse eleitor indeciso, levado pelo volume da campanha do candidato Zenaldo, foi o principal responsável por essa reviravolta eleitoral, no chamado “efeito dominó”.

Como o senhor avalia o fenômeno Úrsula Vidal, a candidata da Rede, uma neófita na política, mas que superou até o ex-reitor Carlos Maneschy, o candidato do PMDB, que teve o apoio do senador Jader Barbalho, a mais longeva liderança da história política do Pará, e do ministro Helder Barbalho, da Integração Nacional?

A jornalista Úrsula Vidal como candidata a deputada estadual pelo Partido Popular Socialista – PPS, nas eleições de 2014, obteve em Belém 4.453 votos e no estado do Pará 5.653. Nesta eleição de 2016, a candidata alcançou 79.968 votos, que estiveram concentrados principalmente nos distritos administrativos de Belém, Icoaraci, Guamá, Entroncamento e Sacramenta. Regiões onde o PT e o candidato Edmilson sempre foram bem votados. Esse fato nos leva a deduzir que coube à candidata o voto de segmentos da sociedade que votavam no PT e que optaram pela candidatura da Rede, assim como, teve o voto de “protesto”, se pode falar assim, principalmente dos jovens, diante dos escândalos de corrupção e a crise econômica. Úrsula com seus dois segundo de TV, acabou, no debate, demonstrando que a escassez de tempo não permitia apresentar melhor suas propostas, o que de certa forma passou a imagem de que estava sendo injustiçada, etc. Quanto ao professor Maneschy, o mesmo se apresentou para a população como o candidato “novo na política”, mas pelo desconhecimento da população em relação a seu nome, não conseguiu, em pouco espaço de tempo, consolidar seu nome junto à população e não criou diferencial entre ele como novo na política e seus adversários políticos.

Qual o provável destino dos votos dos candidatos excluídos do segundo turno?

O segundo turno é uma nova eleição e o que define o destino dos votos dos candidatos que saíram da corrida eleitoral é o alinhamento politico do eleitor, o nível de simpatia ou rejeição que o eleitor demonstra por determinado candidato, haja vista que é uma eleição polarizada. A grande maioria dos eleitores tem relação personalista com o candidato e não partidária. O que importa é se o candidato realizou ou não determinado serviço, ou se o opositor terá condições ou capacidade de fazê-lo de forma mais qualificada.

É possível supor a transferência automática de votos, em um cenário de profundo desgaste da classe política, com a sucessão de escândalos e as revelações feitas pela Operação Lava Jato?

No cenário político atual não acredito em transferência mecânica de votos em grande escala. Acredito que apoio político de determinado candidato pode ajudar o eleitor a se posicionar. O voto está mais personalizado; o voto não é do partido, e sim do candidato. O eleitor vota na pessoa, até mesmo porque, como você mencionou, é grande o desgaste da classe política e, por tabela, dos partidos políticos. Entretanto, as alianças, as declarações de apoio, fortalecem o candidato que permaneceu na disputa, mas é bem diferente declarar apoio e ficar observando a banda passar, de declarar apoio e ir para a rua trabalhar pela candidatura de seu apoiado.


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