segunda-feira, 23 de outubro de 2017

ANA JÚLIA – Realizações e escândalos

Embora tenha usado a Sespa, a Secretaria de Estado de Saúde Pública, como moeda de troca no jogo político, é inegável o esforço do governo Ana Júlia Carepa em investir na saúde pública, na qual o marco foi a instalação do acelerador linear do Hospital Ophir Loyola – vital para o tratamento de pacientes com câncer, no valor de US$ 1 milhão -, que Jatene deixara dormitando, encaixotado, no almoxarifado da Sespa. A administração da ex-governadora também investiu significativamente na expansão da Defensoria Pública, órgão responsável pela garantia de ampla defesa do cidadão que não tem condições de arcar com os honorários de um advogado. No seu governo a Defensoria Pública ganhou autonomia financeira e administrativa, aumento dos recursos públicos disponíveis e ampliou sua capacidade de atendimento, com a construção de novos espaços e instalação de outros serviços. Na gestão Ana Júlia, a Defensoria Pública passou a dispor de 275 defensores públicos e a garantir seus serviços em 142 municípios.
Também não faltaram escândalos. Alguns ruidosos, com ilustram os exemplos abaixo:

Garota presa e estuprada Um dos mais danosos escândalos, para a imagem de Ana Júlia Carepa foi o caso da garota L. S. P., de 14 anos, presa por furto, em Abaetetuba, e mantida em uma cela, por 26 dias, com 20 presos, pelos quais foi sucessivamente estuprada e humilhada, segundo denunciou, em um episódio com repercussão internacional.
O escândalo da menina presa e estuprada em Abaetetuba teve ainda uma passagem deprimente, que tisnou a imagem de Ana Júlia Carepa. O então delegado geral da Polícia Civil, o delegado Raimundo Benassuly Maués Júnior, tido e havido como íntimo da governadora, ao depor na Comissão de Direitos Humanos do Senado, etiquetou de “débil mental”, por não informar ser de menoridade, a garota L. S. P., mantida em uma cela da delegacia de polícia de Abaetetuba com cerca de 20 presos, pelos quais foi estuprada e humilhada. Na ocasião, diante da indignação provocada pela declaração, Ana Júlia, que também se encontrava em Brasília, recriminou a postura do delegado, que em seguida foi exonerado, a pedido, mas posteriormente reconduzido ao cargo (Leia aqui).

Stripper como assessora – Ana Júlia, ao lado disso, amargou desgastes absolutamente desnecessários, que refletem a incompetência do seu entorno. Ela nomeou, como assessoras, sua cabelereira e da sua esteticista, tornando-se, por isso, alvo de chacota.
Teve ainda a nomeação, como assessora, da performática Élida Braz, uma DJ que era também stripper, exibindo-se coadjuvada por uma cobra. Ela tem como marido e mentor André Lobato, o Kaveira, ex-vereador de Belém pelo PPS e que ganhou visibilidade como empresário da noite. Seus antecedentes incluem suspeitas de furto e homicídio, além de porte de granada.

Licenças ambientais sob suspeita - Renderam ainda graves críticas a Ana Júlia a atuação do ex-marido, Marcílio Monteiro, e do ex-cunhado, Maurílio Monteiro, que controlavam as licenças ambientais, estopim de denúncias sobre uma suposta promiscuidade na relação com as madeireiras ilegais.

O affair e o convênio de R$ 3,7 milhões - No começo do governo, Ana Júlia namorou com o nepotismo, embora sem a desfaçatez exibidas por Almir Gabriel e Simão Jatene nesse quesito, e chegou a nomear dois irmãos para cargos públicos, Luiz Roberto Carepa e José Otávio Carepa, o que repercutiu mal. Agora, pior, muito pior, até porque custou caro ao erário, foi o episódio envolvendo o affair de Ana Júlia na ocasião, Mario Fernando Costa, na época presidente do Aeroclube do Pará, com o qual o governo firmou um contrato no valor de R$ 3,7 milhões, para a formação de 14 pilotos.

Kits milionários - Outra passagem patética da gestão da ex-governadora foi a distribuição de a alunos de rede estadual de 1 milhão de kits escolares e 10 mil revistas com o logotipo da gestão de Ana Júlia Carepa, o seu nome e textos elogiosos à própria administração. No total, o governo investiu R$ 47,8 milhões nos kits. Também importada da UFPA, sob as bênçãos dos luas pretas de Ana Júlia, Iracy Gallo, então secretário estadual de Educação, negou qualquer irregularidade e disse que os materiais tinham sido aprovados pela assessoria jurídica do governo. Gallo, diga-se, assinava um texto na agenda escolar, um dos itens que compunha o kit, no qual havia também duas camisetas e uma mochila.
Em tempo: segundo o artigo 37 da Constituição, é proibido "constar nomes, símbolos ou imagens que caracterizem promoção pessoal de autoridades ou servidores públicos" na "publicidade dos atos, programas, obras, serviços e campanhas dos órgãos públicos". O objetivo da lei é garantir o princípio da impessoalidade.

Contrato com a DeltaUm contrato com a Delta, no valor de R$ 20 milhões e celebrado com dispensa de licitação, para a locação de 450 carros destinados à Polícia Militar, constitui-se em uma das mais controvertidas passagens do governo Ana Júlia. A Delta, recorde-se, é a empreiteira de Fernando Cavendish e protagonizou uma das maiores ascensões empresariais já vista, ao longo dos governos petistas. Além de obras do PAC, estádios e outras grandes construções, a empresa passou também a colecionar em seu portfólio indícios de superfaturamentos, fraudes e propinas.

O contrato, diga-se, embora muito criticado, foi mantido pelo tucano Simão Jatene, ao suceder Ana Júlia Carepa no governo.

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